por Luiza Martin
No ambiente, havia o chão de madeira escura, as pinturas pregadas na parede, 50 cadeiras ocupadas pelo público e as quatro bandeiras: brasileira, alemã, catarinense e joinvilense. Os participantes se limitaram à cultura germânica manifestada na arte, nas brincadeiras tradicionais e na história dos alemães
A anfitriã

Alcione Pauli, 31 anos, se inspirou

Luzes apagadas, duas lanternas de emergência, um bastão de madeira, Wolfgang Amadeus Mozart a tocar e Johann Wolfgan von Goethe interpretado por Allan Marllon Viana foi a soma necessária para deixar o público boquiaberto. O ambiente sombrio sugeria a última ânsia do alemão, Goethe: “Abram a janela do quarto, para que entre mais luz”.
Allan desafiou a linguagem verbal – precisou de apenas um dia para aprender o alemão e aplicá-lo em frases intercaladas com outras em português, enquanto andava da esquerda para a direita na sala do museu. Tamanho esforço lhe rendeu uma bolsa de estudos, para aprender o idioma, concedida e anunciada durante o Sarau. O ritmo dos passos dele foi marcado pela combinação entre a música e sua voz. A primeira palavra que pronunciou encerrou a primeira fase da apresentação, a “da gastrite extra-emocional”. Pois, a genialidade que se esconde atrás dos óculos arredondados teme se revelar – sofre de timidez.
O jovem de 20 anos que tem como segunda casa a biblioteca municipal de Joinville, de tanto que lê, estuda e atua não tem tempo para comer. É magro. As calças caem. Por isso adora sua coleção de suspensórios (e porque só lhe servem os cintos infantis). Allan tem a mente inquieta de um gênio habitando a estrutura franzina de um nordestino, que mora
“Sarau é a maneira mais plena de expor seu íntimo. É falar de amor e plenitude”, divagou Allan. Ele tanto aprecia essa confraternização a favor da arte, que se apresenta em todos os eventos realizados pela Biblioteca Municipal de Joinville.
Brincadeiras e estripulias
Seis crianças do grupo folclórico Windmühle, pertencente à Sociedade Cultural Lírica, mostraram as brincadeiras típicas dos alemães de Joinville. Não se aquietaram em nenhum momento. O pai de duas delas, Odinei Petri, confessou que Josiane, seis anos de idade, e Carlos Eduardo, de apenas quatro anos, não cessam as brincadeiras. Odinei é operador de produção e contou que o filho menor diverte a todos com as trapalhadas – “na Festilha (Festa das Tradições da Ilha de São Francisco), ele escorregou no tablado de madeira e fez todos os colegas caírem”, recordou rindo.
Josi e Dudu, como são chamados pelo pai, formam o casal mais novo do grupo. Para ela a melhor dança é a do “ursinho”, semelhante a sua rotina. Isso porque narra a história de crianças que brincam, festejam e riem até o momento do sono, metaforicamente lembrado como a hora do ursinho.
Uma tríade muito entrosada
Maestro, pianista e cantores formam o coral da ACE, que entoou seis melodias no Sarau Itinerante. Dentre elas estava a Marcha Turca de Mozart. A voz do coral foi formada por 29 estudantes. Um deles, Jeferson Jones Bernardes Filho, que tem 20 anos, é estagiário em um escritório de advocacia. Além de estudar Direito na ACE à noite e trabalhar de dia, o futuro advogado joga handebol segunda e quarta-feira das 20horas à meia noite. Na segunda e quinta-feira após às 18h, ele se dedica ao coral durante uma hora. Cantar para Jeferson é lazer.
Mas para o maestro, Luiz Fernando Melara, e para a pianista, Marisa Toledo, música é profissão. Depois da regência vigorosa, o rosto de Melara brilhava de suor. Ele se formou regente na Escola de Música e Belas Artes do Paraná e se aposentou como professor de música pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) em 2005, quando retornou para Joinville. Dirige a orquestra da ACE e já havia participado do coral da Univille (Universidade da Região de Joinville), da qual cobrou indenização pelo uso indevido de seu trabalho após sua demissão em 1999.
Com o som do piano eletrônico, Marisa acompanhava os cantores. Quando ela tinha “mais ou menos dez anos” de idade e três de aulas de piano clássico, ganhou seu primeiro órgão. A pianista é formada pelo Conservatório de Música Erudita e fez pós-graduação em música brasileira. Grávida do primeiro bebê aos 35 anos, Marisa leciona na casa da cultura e demonstrou ser muito tranqüila e consciente da profissão que escolheu. “Trabalhar com música, profissionalmente, não é fácil para ninguém. Só seria se tocassem na banda da Madonna”, comentou ironizando os que almejam a ascendência econômica repentina.
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