quarta-feira, 26 de março de 2008

Por quem o sino da Igreja da Paz badala?

Texto Jean Carlos Knetschik
Fotos Jacson Almeida

Torre guarda sino da Igreja da Paz desde 1892 Mesmo com o relógio quase sempre atrasado ou adiantado, o sino da Igreja da Paz, no pátio do Bom Jesus Ielusc, badala a cada 15 minutos. Nas terças-feiras, ele toca incessantemente para anunciar o início do culto. Sempre às 18 horas do terceiro dia da semana, o barulho atrapalha o atendimento na secretaria da faculdade. Entre alunos e funcionários a opinião, muitas vezes, é a mesma: o sino é um incômodo. Já para os adeptos da comunidade luterana, o sino representa toda uma história.

A Igreja da Paz só recebeu a instalação da torre com o sino em 1892, três anos após a proclamação da República. Até então, a religião oficial era a católica, da qual o imperador era adepto. As demais religiões não podiam ter templos com aparência de igreja, com torres e sinos.

Em 1890 se formou uma comissão em prol da construção da torre com o sino. Até a inauguração, por duas vezes a torre foi atingida por raios, o que motivou a colocação de pára-raios. No início, a altura da torre era de 27 metros e a inauguração ocorreu em 18 de dezembro de 1892.

Nove anos mais tarde surgiu a idéia de acrescentar um relógio. Para isso, o telhado precisou de uma nova estrutura. Adquirido diretamente da Alemanha, o relógio possui 1,75 metro de diâmetro e, inaugurado em 10 de fevereiro de 1908, funciona até hoje, mesmo que quase sempre fora do horário oficial de Brasília.

Há um ano trabalhando na secretaria do Ielusc, Cláudia Roberto, 34 anos, destaca que, depois de algumas semanas, o barulho do sino não incomoda mais. “Já estamos acostumadas”, afirma. Já para a companheira de trabalho Bruna Ladeira, 23, mesmo estando há três anos na função as badaladas das 18 h de toda terça-feira atrapalha o atendimento. “Temos que aumentar o tom de voz por causa do barulho”, frisa.
Estudantes divergem sobre importância e incômodo causado pelas badaladas do sino
Felipe Silveira, 22, é o Relações Públicas do Diretório Acadêmico de Comunicação Social Cruz e Souza (Dacs), do Ielusc. Um dos poucos estudantes que já entraram na torre que guarda o sino, ele conta: “O sino tem mais ou menos um metro e trinta de altura, a boca tem sessenta centímetros de diâmetro e ele é preto”. Ele concorda que o barulho do badalo atrapalha, especialmente durante as aulas. O som a cada hora tira a atenção tanto do professor quanto do aluno, segundo o estudante. Mesmo assim, acompanha o horário, muitas vezes, pelo badalo.
Estudante do 5º semestre de jornalismo, Francine Hellmann (19) remete o sino ao trem que passa por Joinville, quase num tom saudosista. Apesar da pouca idade, analisa como os joinvilenses não se lembram de ouvir o sino, ou mesmo de dar valor para o trem por toda história que os dois carregam consigo.

Pastor Ari: 'Só há dois órgãos como o desta igreja em todo o Brasil'
Além do sino, outra relíquia presente nas dependências da Igreja da Paz é o órgão com 579 tubos. “Iguais a este, só dois em todo o Brasil”, revela o pastor Ari Knebelkamp. Adquirido no primeiro dia de dezembro de 1911, o instrumento ainda é utilizado e, nesta semana, voltou de uma reforma cujo orçamento não saiu por menos de R$ 167 mil. Munido de um organol, toca sozinho cerca de 300 músicas, instaladas ali há quase 100 anos. Após a reforma, o acesso ao órgão e, consequentemente, ao sino, ficou restrito e apenas duas pessoas possuem as chaves das portas.

Em busca do sino


Cheguei ao Ielusc cerca de 10 minutos antes das 19 h de terça-feira, dia 25 de março. Logo o sino da Igreja da Paz anunciou as sete badaladas indicando o início da aula. Não sabia, mas quele sino seria a minha pauta para aquela noite.
Em sala, os repórteres pegavam os assuntos a serem abordados e saíam. No quadro, nada muito interessante, aparentemente. Resolvi não sair do campus e focar minha atenção para um assunto que poderia render uma bela matéria: o bendito sino da igreja.

Duas semanas antes, ele já tinha sido tema de discussão numa aula de Semiótica, do professor Gleber Pienez. Pensei que poderia resultar em algo interessante. Isso até pegar a pauta de duas linhas escrita pelo colega Sandro Gomes. A frase falava sobre um sino que um dia rendeu uma boa matéria. Curioso, se houvesse informações sobre possíveis fontes a entrevistar, mas ela trazia o mesmo que: “fizemos uma matéria com um gari, ficou legal”.
Não pestanejei diante do professor e fui à luta. Convenci o fotógrafo Jacson Almeida a me acompanhar na aventura, na esperança de tirar boas fotos do sino e do órgão da igreja, também era mencionado na pauta como “power ranger”. Infelizmente, a única pessoa que detinha a chave para nos levar até o sino e o órgão não se encontrava nas dependências luteranas desde as 18 horas.
Conversamos então com a esposa do pastor Ari Knebelkamp, a qual nos cedeu o telefone da portadora da chave. Ligamos. Ninguém em casa. Conseguimos o telefone de um ex-pastor que poderia nos ajudar. Também não atendeu, mas ligou no meu celular horas mais tarde achando que era a babá de seu filho. Tanto ele como eu ficamos sem falar com quem queríamos no momento em que precisávamos.
Quem poderia me informar sobre o sino? O homem mais poderoso do Ielusc, o reitor Tito Lívio Lerma estava em Florianópolis. Não nos restou alternativa senão apelar. Meu amigo Jacson disse ter ficado “meio de cara” quando conversei com o pastor Ari e informei que só ele poderia nos ajudar, segundo a portadora da chave, professora Cládis. Detalhe é que nem tinha falado com ela por telefone, ou mesmo sabia de quem se tratava, só sabia que nã era a esposa do reitor Tito. Achei que não teria problema apenas tirar uma ou duas fotos do sino e do órgão. Nas palavras que utilizei: “Ela disse que era para falar com o senhor”.

A desculpa colou e ele nos levaria rapidamente até a torre da igreja. O pastor abriu a primeira porta, mas da segunda não tinha chave. Ficamos sem matéria e, para piorar, a bateria da câmera estava no fim. “Só falta isso me acabar lá em cima”, disse Jacson, ao que respondi: “Cara, se isso falhar eu te jogo com câmera e tudo lá de cima”.
Como sou a calma em pessoa, logo perguntei quem teria de assassinar para conseguir uma foto decente do sino e do órgão. No final, o que nos restou foi entrevistar os estudantes e usar as fotos deles na matéria, além da torre por fora. E eu, que queria caminhar pouco, acredito ter andado algum quilômetro dentro da instituição para conseguir uma matéria com pouquíssimas informações, em que a história da busca por esses detalhes, rendeu um texto melhor do que o próprio tema sugerido pelo pauteiro.

2 comentários:

Felps disse...

Peço perdão ao répórter e aos leitores. Afirmei que o sino era preto, mas quando estava vindo pra casa lembrei que não tenho certeza disso. Ainda acho que é. Amanhã de manhã vou lá pintá-lo de preto pra não passar por mentiroso.

Jean Rio Negrinho disse...

E eu peço excusas à entrevistada Francine Hellmann que não tem nada haver com a maionese, mas teve um "s" acrescentado no final do seu sobrenome.
Também reforço que há apenas um sino na igreja, não "sinos" como coloquei pouco antes da fala das secretárias.