terça-feira, 25 de março de 2008

O mundo visto por uma latinha


Por Ariele Cardoso


Com cinco painéis 1m X 2m e cinco 0,5m X 1m, a exposição “Real e de Viés”, do fotógrafo e artista plástico Alvaro de Azevedo Diaz, 43 anos, interpreta a vida real em imagens distorcidas. A câmera utilizada para a obtenção das fotos foi uma latinha de café solúvel com um orifício feito por uma agulha. Conhecida como pinhole (buraco de agulha), a câmera fornece uma visão distorcida (pelo seu formato) e ao mesmo tempo natural (pelo fato de não usar lente).

O resultado das imagens não foi acaso. Álvaro fotografou em torno de 30 paisagens e, em consenso com a curadora da exposição, optou por 10 imagens que traduziriam o mundo real enviesado, como na música de Caetano Veloso. O alvo da “lente” de Diaz foge ao trivial: grampos de roupa, melancias, guarda-sóis e mesmo uma bicicleta.“Um mundo de efeito promete surpreender-nos”, afirma a curadora da exposição, Fabiana Wielewicki.

Nas imagens, sem interferência de tecnologia, ainda é possível ver resquícios de fitas adesivas utilizadas para prender o negativo ao fundo da lata, a marca do filme utilizado, excessos e falta de luz. “O que vai encantar é o trabalho pronto, a foto grande. Acho que traduz um momento feliz da minha vida, talvez por isso seja encantador”, avalia o artista.

A curadora Fabiana tem 31 anos e trabalha com fotografia desde 1999. A artista plástica destacou a importância de imagens grandes para provocar maior apelo visual: “O tamanho tem várias funções, mas a principal delas é levar o público a prestar atenção nos detalhes, na promiscuidade exibida”. Para analisar as imagens, Fabiana sugere: “Todas as questões úteis para a análise da imagem estão na superfície da foto. A disfunção do orifício da pinhole tem o apelo de que olhemos mais, de que pensemos mais. A latinha distorce as informações que seriam óbvias e nos pede mais atenção.”

O trabalho de captação das imagens durou cerca de três meses e Álvaro garante que está longe de um fim: “O importante é começar o trabalho, tem que pensar, tem que executar e tem que fechar o processo. Eu continuo fotografando, mas sabia que estava na hora de entregar as imagens”.
Até 2012, a mostra será exibida em quatro cidades por ano. Em 2008, ainda será possível ver as fotos em Itajaí, Concórdia e Chapecó.

A exposição fica até o dia 25 de abril no anexo II do Museu de Arte de Joinville, na Cidadela Cultural Antarctica, na Rua XV de Novembro, 1383, Bairro América. Há ainda a possibilidade de agendar visitas monitoradas, pelo telefone (47) 3433-4677. O Museu recebe espectadores de terça a sexta, das 9h às 17h, nos sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h.

Fotógrafo já produziu documentários

Álvaro de Azevedo Diaz é formado em Direito e mestre em Mídia e Conhecimento pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Já trabalhou como fotojornalista freelancer, produziu documentários e esporadicamente faz fotografias comerciais. Já fez exposições individuais e coletivas, além de participar de mostras em salões e galerias no Brasil e no exterior. Desde 2004 é professor do curso de Comunicação Social, no Bom Jesus/Ielusc. Atualmente dá aula para quatro turmas.

(Na foto, o professor Álvaro Diaz. Crédito: Ariele Cardoso)

6 comentários:

Unknown disse...

Muito bom. Realmente bom. Fiquei surpreso ao ler sua matéria (não vou mentir). Muito bem escrito e muito claro o discurso. A ordem dos eventos e as explicações ficaram muito distintas. O intertítulo também ficou bacanérrimo por falar um pouco mais do artista. Meus parabéns Ariele.

Jean Rio Negrinho disse...

Tenho que pedir desculpas à Ariele porque esqueci de lhe arrumar a foto que pediste. No entanto, a tua foto também ficou bacana no corte americano (pelos joelhos) pegando a lata na mão e o Álvaro apontando para o quadro (ao menos dá a entender isso). O texto também está bom, na minha humilde opinião.

Michels disse...

Adorei. Ariele, a pauta em si já era encantadora, agora com o teu 'jeitinho', o texto ficou lindo. Parabéns. Vou me inspirar em você!

O SINO disse...

Sem querer inflar os egos de ninguém, gostaria de parabenizá-la pelo texto. Muito legal. Bem escrito, limpo, claro. De uma clareza que ainda não consegui enxergar plenamente em você. Desculpe por qualquer coisa. Surpreendeu...

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Pena que o último comentário não foi assinado... Gostaria de conhecer o autor.