terça-feira, 25 de março de 2008

Dominó sem apostas, torneios e compromissos

As pedras em sorteio: qual irá para quem?


Por Sidney Azevedo

O jogo de dominó parte da informalidade nas mesas da praça Nereu Ramos. “O jogo aqui não tem muita regra”, diz José de Sousa, aposentado de 69 anos. Um traz o dominó e convida os que estão próximos para a partida, formam duplas e logo deitam as pedras de marfim na mesa de mármore. José só observa o divertimento. Ouve Aderbal Amado da Silva Filho, aposentado de 61: “com seis senas na mão não se pode perder!”.
José mora no Comasa e vem à praça de duas a três vezes na semana. Nasceu em Jaraguá do Sul e se diz descendente de ingleses. “O cartão do idoso é uma benção”, ri. Ele discute a tática do jogo com Aderbal, que mora no América e joga na praça há dois meses e meio. Este tem casa em Itapema, onde também joga. “Seis doble eu já peguei!”, comenta.
Na mesa estavam Daniel Santos, 63, Jorge, 67, Salvinho, de 55, e um senhor de 43 que pediu para não ser identificado com medo de que a mulher descobrisse onde ele estava. O único inconveniente é a chuva, da qual fogem para o ponto de táxi ou para o palco. Salvinho tinha um guarda-chuva. “Sabes como é Joinville...”, riu.
Todos católicos, uns relaxados, outros que rezam em casa. José disse: “a igreja sou eu mesmo, a fé que eu tenho, que não preciso ir na igreja pra manter”. Sobre política, discutiram se o jogo poderia ser impedido. “O jogo é um divertimento público, até a polícia nos vê bem”, disse Jorge.
Robson Hass, de 28 anos, acompanhou as seis partidas que aconteceram durante a entrevista. José comentou em tom de brincadeira: “eu e esse alemão aí somos até campeões brasileiros”. Robson, que é gerente de estacionamento e mora no Itaum, vai à praça quase todo dia. “Só agora começam a aparecer jovens para jogar”. Ele trouxe um conjunto de peças. Começou a jogar com os aposentados quando foi abordado na calçada, num momento em que apenas três estavam à mesa. Ele joga há seis meses.
José saiu. Disse ser tarde. Logo saiu também Daniel com suas peças. Robson pôs as dele na mesa. “Aqui é tudo na amizade, para tirar o estresse, sem apostas e torneios e compromissos”, conclui Aderbal, antes de ir para mesa com Robson.
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2ª fotografia: Jogador aguarda sua vez.
Fotografias de Valmir Fernando.

2 comentários:

Unknown disse...

O inconfundível jornalismo literário. O caminho é longo, caro amigo Sidney. Espero que não tropece demais. Por melhor que tenha sido escrito - e o foi, você não deve esquecer que Redação II nos ensina o padrão jornalístico mais comum: o lead no topo da pirâmide invertida. Infelizmente é nossa realidade atual (que mudará em Redação VI). Mas seu texto está muito bom. Adoro sua narração. Esse entrelaçamento do que é e do que acontece. Parabéns Sidney!

Jean Rio Negrinho disse...

Tenho de concordar com o Pedro. Não tiro uma vírgula do que ele disse e digo mais: o texto é bem próprio do nosso amigo Sidney, o qual já confessou fazer o curso para seguir no meio acadêmico, e não se tornar repórter de redação, como tantos outros objetivam. Mesmo assim, o queria ter na redação do meu jornal um dia.