quarta-feira, 18 de junho de 2008

Alucinações quixoteanas invadem a praça Nereu Ramos

Foto: Jacson Almeida

Adaptação de Dom Quixote de la Mancha encenada ao ar livre no centro da cidade

Por Priscila Farias Carvalho

Após 12 dias de apresentações teatrais, a Mostra de Teatro Cena 5 se despede de Joinville com a encenação ao ar livre de Dom Quixote de la Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes. Por volta das 16h30, terça-feira 17, "Das saborosas aventuras de Dom Quixote de la Mancha e seu fiel Escudeiro Sancho Pança – Um capítulo que poderia ter sido", arrancou aplausos, encantou o público e parou o centro da cidade. Juntando o cenário urbano com a arte inovadora, o grupo goiano Teatro que Roda ousou, usou e abusou do improviso pelos espaços disponíveis Praça Nereu Ramos e arredores.

A apresentação iniciou com Dom Quixote descendo do Edifício Manchester, o que assustou muitos comerciantes da região que não sabiam se o homem se atiraria do prédio ou se se tratava de outra coisa que não uma peça teatral. Dom Quixote é João, um executivo frustrado, e o fiel escudeiro, Sancho Pança, é um atabalhoado catador de papel. Um carrinho de lixo se transforma no cavalo Rocinante, que teve o rabo improvisado por um cachecol azul, de uma garota da platéia. Roupas feitas de anéis de latinhas e retalhos de tecidos, um carrinho de lixo, papelões e outros materiais recicláveis adornaram os atores.

O estudante de Jornalismo Sidney Azevedo define a luta de Quixote e o dragão como o momento “sensacional”. O dragão em questão foi improvisado por uma patrola estacionada no meio da rua. Por cima do veículo estava Dulcinéia, a bela das alucinações do cavaleiro viajante. Outros atos marcantes foram: a frenética luta entre Dom Quixote, Sancho Pança e três mercenários, no meio da praça; as aparições repentinas das 12 moças vestidas de noivas, representando Dulcinéias; e a perseguição de um carro policial, fictício, a Dom Quixote, marcando o final da peça.

Os atores Dionísio Bombinha e Liz Eliodoraz se movimentaram por um palco que se confundia com frentes de lojas, marquises de prédios e afins: as ruas do Príncipe e Palmeiras, onde público e atores disputavam espaço. A tal invasão teatral encheu os olhos de Allan Viana, 20 anos, teatreiro por vocação. “Achei maravilhoso”. Ele ainda ressalta: “Une o útil ao agradável: o público, a cidade e o texto”. Abruptamente, Silvestre Ferreira intervém: “Você é da Companhia de Teatro?”. O ator confirma, recebendo os cumprimentos do coordenador da Cena 5.

Para Sônia Regina, que estuda teatro há 10 anos, é difícil definir o melhor dos espetáculos a que assistiu. “Eu achei todos muito bons". “Isso faz parte do projeto Palco Giratório, que existe há 11 anos no Serviço Social do Comércio”, declara João Daniel Zanotti, coordenador do setor de cultura do Sesc. João lembra que a peça ainda terá passagens por São Francisco do Sul e São Bento do Sul, dias 18 e 19, respectivamente. Para a realização da peça, foi necessário a liberação do local junto à Prefeitura, mobilizar o policiamento e os bombeiros e obter autorizações do Edifício Manchester e do comércio da região.


Um pouco mais da Mostra Cena

Na 5ª edição da Mostra Cena, atores, diretores, críticos e platéia se envolveram e reinventaram-se diante da magia do teatro. Durante os dias 9 e 18 de junho, 15 espetáculos em lugares distintos da cidade, deliciaram o público. De Juarez Machado, passando pela Cidadela Cultural – no Galpão de Teatro da Ajote; do Mercado Público Municipal à praça Nereu Ramos e o centro da cidade, os teatreiros fizeram a população respirar arte.

Esse ano a Fundação Cultural de Joinville tomou a dianteira na realização da Cena 5, junto com a Associação de Teatro Joinvilense, Ajote. Novidades também nortearam a Mostra. Sob o tema: “Ver o novo, Ver de novo”, os espetáculos foram divididos entre atrações conhecidas do público joinvilense e novas adaptações teatrais, além das companhias convidadas e debates após os espetáculos.

Silvestre Ferreira, diretor de teatro e presidente da Ajote, avalia a Cena 5 como "diversificada". "A qualidade é muito boa”. Nem o próprio organizador consegue definir qual foi a peça mais aceita pelo público. “Eu, como artista, só tenho que aplaudir.” Silvestre cita as peças de grande apelo junto ao público, como "SOS - Uma mulher só" e "Migrantes", entre outras que para ele “são propostas diversificadas e mais intimistas”.

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